Eram em torno das sete da tarde, mais um bocadinho e seria noite. No hemisfério sul, em pleno horário de verão, àquela hora, o sol,
embora já indicasse que mais um dia terminaria, ainda despejava seus raios no
entorno da casa de Ferdinando.
Onde ele estava já havia sombra
dos prédios em frente, e, tirando proveito disso, pois mesmo em um dia
escaldante pode-se tirar proveito do sol – ou de sua ausência -, ele acomodou-se
na pequena área de um minúsculo patamar, em frente à porta principal de sua
casa, em nível superior à rua e seus movimentos. Organizou seu acolhedor
recanto e acomodou-se para apreciar aquele entardecer.
Sentado numa cômoda cadeira de
jardim, aproximou uma pequena mesa de centro, de forma quadrada, que usava para
estender as pernas, e, à sua direita, apoiou no chão de piso cerâmico seu aperitivo
preferido para o verão. Martini branco com uma cereja, três colherinhas de maraschino, e muito gelo. Tudo isso em
uma taça alta bojuda, própria para vinhos. Trouxe também um livro de contos de
Tchekhov, que já o acompanhava pela casa a três ou quatro meses, e que, se
poderia dizer, estava em permanente leitura.