Eu era um dragão. Não estava
fantasiado, era mesmo um. Não soltava fogo, mas tinha duas cabeças. E nenhum
rabo. Então tinha duas frentes e nenhuma traseira. Duas cabeças completas com
orelhas, narinas, boca, tocos de guampas. Uma na frente e a outra na outra frente.
Quatro patas. Duas voltadas para a frente e duas para a outra frente. Mas uma
das cabeças olhava, e se alimentava, do passado. Alimento vencido, esverdeado,
podre, vomitado. A outra estava de frente para o futuro e se alimentava dele. Alimento
fresco, virgem, não conhecido.
domingo, 14 de dezembro de 2014
PESADELO DE DRAGÃO
Boca seca. Não sede. Só secura. A
língua está uma lixa e machuca o céu da boca. O palato. Ao invés de fazer
cócegas, arranha. Tive um sonho. Um pesadelo.
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
O CORAÇÃO FAZ MERDA
Fiz essa foto de uma parede grafitada nos passeios que ligam as Cinque Terre. Não foi só isso que me chamou atenção, tenho outras fotografias também, de paisagens e locais belíssimos.
O sentido que dei para essa mensagem, absolutamente alinhado com o que penso, é que O CORAÇÃO FAZ MERDA. É claro que não é só o coração que faz merda, nem o coração faz apenasmente merda. Esclareço também que há muita probabilidade do coração fazer merda se o deixarmos só, com seus impulsos determinando diretamente as ações. Portanto, recomendo: não deixe seu coração fazer merda, entre o impulso nascido dos sentimentos e a ação, use o filtro e o caminho da razão.
O sentido que dei para essa mensagem, absolutamente alinhado com o que penso, é que O CORAÇÃO FAZ MERDA. É claro que não é só o coração que faz merda, nem o coração faz apenasmente merda. Esclareço também que há muita probabilidade do coração fazer merda se o deixarmos só, com seus impulsos determinando diretamente as ações. Portanto, recomendo: não deixe seu coração fazer merda, entre o impulso nascido dos sentimentos e a ação, use o filtro e o caminho da razão.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
AS NEVES DO KILIMANJARO
Um filme bonito e leve, que nos motiva à reflexão.
Destaco uma citação a Jean León Jaurès, socialista francês (1859-1914), que embora reconhecendo a luta de classes, propunha uma revolução social democrática e não violenta. Morreu assassinado.
"Coragem é entender a própria vida, torná-la mais clara e profunda, estabelecê-la e harmonizá-la com a vida em sociedade" (Jaurès)
O filme está disponível para locação em "E o vídeo levou ...".
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
MARINAR, VERBO TRANSITIVO DIRETO
Marina marina o salmão! |
Vinte anos atrás, numa magnífica aula na UFRGS, o
Prof. Francisco de Araújo Santos, filósofo e economista de ideias claras, expunha sua visão de que PT e PSDB
tenderiam a ser um dia a grande força nacional de centro-esquerda. Assim como a
lembrança, as palavras são minhas. Desde então, temos visto os 2 partidos de
semelhantes ideologias colocarem-se em lados antagônicos na política
brasileira, exercendo uma alternância de poder que tem exigido coalizões com a
maioria dos demais partidos, mesmo com aqueles sem consistência ideológica, que
aderem ao ganhador visando a seus próprios interesses. Na troca, viabilizam a
“governabilidade”, que sai arranhada e comprometida, pois o funcionamento do
governo fica refém de interesses apenas partidários.
Mesmo tendo lutado como irmãos
contra a ditadura militar e pelas “diretas já”, PSDB e PT se afastaram e se
opuseram com fortes rancores e eternas disputas sobre quem seria o melhor. Se é
este ou aquele o pai do Plano Cruzado, ou do Bolsa Família, e por aí adiante. No
que realmente importa, como democracia, estabilidade da moeda, programas
sociais e crescimento econômico, esses 2 partidos olham na mesmíssima direção,
e, talvez a principal diferença está nas classes socioeconômicas que
representam.
A notícia boa é que a candidata a
“chef” da cozinha brasileira pelos próximos 4 anos, Marina Silva, diz estar
empenhada em convidar esses importantes partidos de centro esquerda a
participar de seu possível futuro governo. Apesar da falta de estrutura
partidária do PSD, ou da Rede Sustentabilidade que ainda não tem registro, e da
aparente fragilidade de sua figura física, essa Marina Silva de pouca rejeição política, poderá sim ter
forças para nos levar a uma coalizão política de centro-esquerda e nos livrar,
quiçá em definitivo, da política do fisiologismo e clientelismo que nos
acompanha desde sempre.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
QUEM TEM MEDO DA AMAZON?
Na
semana passada fui às compras. Curioso com a entrada da Amazon no mercado
brasileiro, escolhi 4 títulos importantes de literatura para enriquecer minha
mínima biblioteca e pesquisei nos sites de 3 livrarias: dessa questionada
Amazon e de duas outras que já sou cliente, talvez as maiores do Brasil. Acabei
encontrando os 4 títulos na recém chegada ao Brasil e os receberei em casa por
R$88,55.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
GRADES DA EXCLUSÃO
Publicado no Jornal do Comercio em 25/08/2014
Poucos anos atrás, tentava-se impedir o acesso e uso
como moradia das pontes da Avenida Ipiranga. Já, nestes dias, noticia-se a
instalação de grades e estruturas em prédios particulares visando à proteção de
seus habitantes contra os chamados moradores de rua. Os motivos que nos levam a
evitar essas pessoas não são subjetivos, tampouco irrelevantes. De fato, em
face da pobreza desses moradores de rua, pode haver mau cheiro e acúmulo de sujeira
onde se estabelecem. Somado ao crescente medo que nos provoca a violência e a insegurança
urbana, parecem estar justificadas as ações de segregação que, ao alcance de
nossa mão, nos oferecem um alívio imediato.
terça-feira, 29 de julho de 2014
ENTRE OS LEGADOS DA COPA
A imprensa tem noticiado
amplamente o afluxo de cidadãos de Gana que, aproveitando a Copa para entrar no
Brasil, buscam refúgio em nosso país. Só em Caxias do Sul estariam 200 pessoas
em busca do reconhecimento da situação de refugiados e, mais do que isso, de
oportunidades de vida digna. De todos os legados da Copa (reais e imaginários),
este fato me sensibiliza, orgulha e motiva enormemente para continuar torcendo
que nosso país se mantenha como uma referência nos programas de acolhimentos
humanitários.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
FEITIÇO DO TEMPO
Tendo lido (e apreciado) o artigo de Contardo Calligaris (Folha de São Paulo, 05/06/2014),
psicanalista que escreve às quintas-feiras nesse jornal, procurei o filme referido
(Feitiço do Tempo), que foi uma agradável surpresa. Talvez por ter lido antes o
artigo.
Nesse artigo, o
autor aponta o ato de vida como necessário para nos libertar do tempo, pois a
vida nos aprisiona e faz cada dia ou semana parecer igual às anteriores.
Mas, na mesma
importância, há uma outra vertente, que é a libertação através da mudança do
comportamento centrado em seus interesses (egocentrismo) para o altruísmo
(dedicação aos outros).
Assim, uma
interpretação possível, é que o personagem do filme só consegue se libertar do “feitiço
do tempo”, quanto desenvolve atos de vida altruístas.
Dica: o filme está
disponível no NETFLIX.
segunda-feira, 3 de março de 2014
FIM DE TARDE COM TCHEKHOV E PIZZA
Eram em torno das sete da tarde, mais um bocadinho e seria noite. No hemisfério sul, em pleno horário de verão, àquela hora, o sol,
embora já indicasse que mais um dia terminaria, ainda despejava seus raios no
entorno da casa de Ferdinando.
Onde ele estava já havia sombra
dos prédios em frente, e, tirando proveito disso, pois mesmo em um dia
escaldante pode-se tirar proveito do sol – ou de sua ausência -, ele acomodou-se
na pequena área de um minúsculo patamar, em frente à porta principal de sua
casa, em nível superior à rua e seus movimentos. Organizou seu acolhedor
recanto e acomodou-se para apreciar aquele entardecer.
Sentado numa cômoda cadeira de
jardim, aproximou uma pequena mesa de centro, de forma quadrada, que usava para
estender as pernas, e, à sua direita, apoiou no chão de piso cerâmico seu aperitivo
preferido para o verão. Martini branco com uma cereja, três colherinhas de maraschino, e muito gelo. Tudo isso em
uma taça alta bojuda, própria para vinhos. Trouxe também um livro de contos de
Tchekhov, que já o acompanhava pela casa a três ou quatro meses, e que, se
poderia dizer, estava em permanente leitura.
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