Se eu não morresse nunca ! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas. (Cesário Verde 1855-1887)







domingo, 14 de dezembro de 2014

PESADELO DE DRAGÃO

Boca seca. Não sede. Só secura. A língua está uma lixa e machuca o céu da boca. O palato. Ao invés de fazer cócegas, arranha. Tive um sonho. Um pesadelo.
Eu era um dragão. Não estava fantasiado, era mesmo um. Não soltava fogo, mas tinha duas cabeças. E nenhum rabo. Então tinha duas frentes e nenhuma traseira. Duas cabeças completas com orelhas, narinas, boca, tocos de guampas. Uma na frente e a outra na outra frente. Quatro patas. Duas voltadas para a frente e duas para a outra frente. Mas uma das cabeças olhava, e se alimentava, do passado. Alimento vencido, esverdeado, podre, vomitado. A outra estava de frente para o futuro e se alimentava dele. Alimento fresco, virgem, não conhecido.