Nestes infindáveis dias de
isolamento e reclusão, tive a oportunidade de ler a bela crônica da antropóloga
Mirian Goldemberg (FSP, 02/04), “Você já ligou para seus amigos e parentes mais
velhos, hoje?”. Mirian Goldenberg, além de professora na UFRJ, é escritora e
estudiosa da felicidade na velhice, daí ser referida como “escutadora dos
velhinhos”.
Mas não é sobre velhinhos que
escrevo, e sim sobre amizade, fraternidade, humanidade, essas únicas coisas que
dão algum sentido à vida humana.
Após concluir a leitura, sem
perder mais tempo, comecei a ligar para meus amigos mais velhos. Boas conversas
(será que sabiam que eu ia ligar?), bons sentimentos, aqueles bons sentimentos que
se tem com os amigos. Depois de alguns telefonemas, me dei conta que, aos 68
anos, tenho poucos amigos mais velhos. Se serve como consolo, também constato
que aos 40 ou 50 também eram poucos, embora mais do que hoje. Também sei que
alguns estudos sugerem que o número de amigos que uma pessoa consegue ter na
vida, não passe de uma dúzia.
É claro que uso um conceito
restritivo, me refiro àquele amigo companheiro que está conosco mesmo longe,
que já sabe o que vamos dizer mesmo sem ser dito, aquele amigo que
verdadeiramente contamos e que ao ouvir nossas manifestações ou desabafos do
coração, dizem “Eu sei disso!”.
Então, depois de completar
algumas poucas ligações, liguei também para alguns amigos mais jovens. Ao
final, liguei também para minha sogra, aquela que dizemos que não é parente,
embora a lei brasileira diga que é. Que bons sentimentos por estar fazendo o
que deve ser feito!
Pois, se não bastasse a
felicidade que essas simples ações me trouxeram, ao final do dia — na verdade,
já era noite avançada — recebi uma ligação por imagem de um amigo
especialíssimo. Apenas “batemos papo”, como não temos feito. Não me disse, mas
eu sabia que também ele tinha lido a crônica de Mirian Goldemberg.
E você, já ligou para seu amigo,
hoje?
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