Se eu não morresse nunca ! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas. (Cesário Verde 1855-1887)







sexta-feira, 6 de novembro de 2015

LER PARA APRENDER, LER MELHOR PARA CRESCER

Recentemente, o Movimento Educar para Crescer, idealizado por Roberto Civita, com o apoio de dezoito educadores, selecionou e divulgou a lista de 204 obras essenciais, — Livros de uma Vida —, para serem lidas do Ensino Infantil ao Ensino Médio.
Esse Movimento, cujas ações visam a sensibilizar, informar e engajar a sociedade para a importância de uma Educação de qualidade para as crianças e os adolescentes, organizou a seleção sugerindo a leitura de um livro por mês, dos dois aos dezoito anos.
Da primeira indicação, — “Bem-te-vi e outras poesias”—, de Lalau e Laurabeatriz, para ser lido às crianças ao completar dois anos, à última, — “A Cidade e as Serras”—, de Eça de Queirós, para ser lido ao final dos dezoito anos, a lista passa pelos clássicos da literatura mundial e brasileira, vai aos pensadores gregos, e inclui todos os gêneros literários.
Ao examinar a lista completa, observa-se que é composta pelos cânones da literatura mundial, com ampla prevalência de obras de maior complexidade de pensamentos e profundidade de sentimentos subjetivos, em detrimento de best sellers. Tal ênfase reflete a distinção de Roland Barthes entre textos readerly, — mais populares —, destinados a entreter os leitores de forma passiva, e os textos writerly, que envolvem os leitores criativamente como escritores. Nessa visão, a literatura engajaria o leitor, permitindo o preenchimento de suas lacunas de vida e sentimentos, e estimulando-o a procurar significados entre uma gama de significados possíveis, através do envolvimento emocional com os personagens.
Essa tese veio a ser comprovada em 2013 pelo trabalho de Kidd e Castano, pesquisadores da New School for Social Research, NY.
Submetendo voluntários a três tipos de literatura: ficção literária, ficção popular e não ficção, esses pesquisadores verificaram o efeito da leitura de ficção literária na “teoria de mente”, tida como a capacidade humana de compreender que outras pessoas têm crenças e desejos, e que estas podem diferir de nossas próprias.
Os resultados obtidos evidenciam que a leitura de obras de ficção literária — descritas como narrativas que se concentram em retratos profundos de pensamentos e sentimentos interiores subjetivos — influencia os processos da teoria da mente, desenvolvendo capacidade de discernir e compreender os pensamentos e características afetivas dos indivíduos.  Isso tem a ver com a capacidade de perceber e compreender o outro, e suas emoções, e colocar-se em seu lugar, desenvolvendo empatia.
Dessa maneira, embora toda e qualquer literatura possa atuar em nossa cognição, incorporando informações e conhecimento, é a literatura mais complexa que nos eleva, estimulando o desenvolvimento de nossos processos da “teoria da mente”. Pois, ao criar empatia pelos personagens da história, mais nos identificamos com os outros na vida real.
 
Publicado no site  http://www.artistasgauchos.com.br/, em 30/10/2015

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