Recentemente, o Movimento Educar para Crescer, idealizado por Roberto
Civita, com o apoio de dezoito educadores, selecionou e divulgou a lista
de 204 obras essenciais, — Livros de uma Vida —, para serem lidas do
Ensino Infantil ao Ensino Médio.
Esse Movimento, cujas ações visam a sensibilizar, informar e engajar a
sociedade para a importância de uma Educação de qualidade para as
crianças e os adolescentes, organizou a seleção sugerindo a leitura de
um livro por mês, dos dois aos dezoito anos.
Da primeira indicação, — “Bem-te-vi e outras poesias”—, de Lalau e
Laurabeatriz, para ser lido às crianças ao completar dois anos, à
última, — “A Cidade e as Serras”—, de Eça de Queirós, para ser lido ao
final dos dezoito anos, a lista passa pelos clássicos da literatura
mundial e brasileira, vai aos pensadores gregos, e inclui todos os
gêneros literários.
Ao examinar a lista completa, observa-se que é composta pelos cânones
da literatura mundial, com ampla prevalência de obras de maior
complexidade de pensamentos e profundidade de sentimentos subjetivos, em
detrimento de best sellers. Tal ênfase reflete a distinção de Roland
Barthes entre textos readerly, — mais populares —, destinados a entreter
os leitores de forma passiva, e os textos writerly, que envolvem os
leitores criativamente como escritores. Nessa visão, a literatura
engajaria o leitor, permitindo o preenchimento de suas lacunas de vida e
sentimentos, e estimulando-o a procurar significados entre uma gama de
significados possíveis, através do envolvimento emocional com os
personagens.
Essa tese veio a ser comprovada em 2013 pelo trabalho de Kidd e Castano, pesquisadores da New School for Social Research, NY.
Submetendo voluntários a três tipos de literatura: ficção literária,
ficção popular e não ficção, esses pesquisadores verificaram o efeito da
leitura de ficção literária na “teoria de mente”, tida como a
capacidade humana de compreender que outras pessoas têm crenças e
desejos, e que estas podem diferir de nossas próprias.
Os resultados obtidos evidenciam que a leitura de obras de ficção
literária — descritas como narrativas que se concentram em retratos
profundos de pensamentos e sentimentos interiores subjetivos —
influencia os processos da teoria da mente, desenvolvendo capacidade de
discernir e compreender os pensamentos e características afetivas dos
indivíduos. Isso tem a ver com a capacidade de perceber e compreender o
outro, e suas emoções, e colocar-se em seu lugar, desenvolvendo
empatia.
Dessa maneira, embora toda e qualquer literatura possa atuar em nossa
cognição, incorporando informações e conhecimento, é a literatura mais
complexa que nos eleva, estimulando o desenvolvimento de nossos
processos da “teoria da mente”. Pois, ao criar empatia pelos personagens
da história, mais nos identificamos com os outros na vida real.
Publicado no site http://www.artistasgauchos.com.br/, em 30/10/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário