Todo brasileiro conhece algo de
Dom Quixote, não é mesmo?
Trinta adaptações para o cinema,
sabe-se lá quantas para o teatro — adulto e infantil —, o mesmo para a dança — em
vários gêneros —, na música — da ópera de Massenet a Tom Zé —, na literatura
infantil — desde Monteiro Lobato às adaptações para HQ —, e na obra original —
com dezenas de edições no Brasil —.
Passados exatos 400 anos da morte
de Cervantes, encontramos Dom Quixote e seu autor em qualquer veículo de
comunicação que acessamos, nos informando sobre o criador e suas criaturas. Pesquisando
na internet por expressões como “as mais importantes obras de literatura”,
encontraremos no topo das listas a figura do engenhoso fidalgo.
E por que esse cavaleiro da
triste figura é tão importante? Deixo para os especialistas responder em
abstrato, mas aponto algumas respostas que alcancei concretamente.
Havia lido algo de Dom Quixote
quando adolescente, parte da obra original publicada em alguma série
colecionável. O fiz por curiosidade e por utilidade. Deixei de ser um total
ignorante, andei uma casa à frente, mas desinteressei em seguir adiante no
tabuleiro da literatura.
Recentemente — passadas algumas
décadas — interessado que estou em me aproximar das letras, depois de uma vida
de números, me interessei verdadeiramente por Dom Quixote, ao ponto de, a cada
final de capítulo, necessitar de uma pausa para acalmar as elucubrações e
fantasias que passavam em minha cabeça. E, logo após, sentir uma revolução
interior descortinando e apontando nossas próprias quixotices. Quixotices estas
que se manifestam individualmente, mas também no coletivo e na própria
humanidade, quando nos envolvemos em inúteis batalhas — e verdadeiras guerras —
contra inimigos só percebidos pela tolice humana.
O que também nos diz Cervantes é
que podemos mudar o mundo, sem nos lançar — como seu tolo herói medieval — às
disputas inglórias, mas sim denunciando e criticando a injustiça através da
comédia e ironia, portando como armas apenas nossas ideias e a capacidade de
transmiti-las pela escrita.
(Publicado no JC de 30/05/2016)
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