Em
situações frequentes e historicamente recorrentes — a pouco nas Olimpíadas —,
ouve-se muito sobre nosso complexo de vira-latas. Tal complexo seria — na
opinião de muitos — uma das principais causas que travam nosso desenvolvimento
como povo e nação. Essa expressão, criada por Nelson Rodrigues após a derrota no
jogo final da Copa de 1950 para o Uruguai, traduz a “inferioridade em que o
brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.” E o próprio
criador explica que “não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a
autoestima”.
Se
até o início do século passado, Monteiro Lobato e outros afirmavam que a
inferioridade do brasileiro era causada pelo excesso de miscigenação e pelo
clima tropical — fatores da indolência e falta de vigor —, mais recentemente,
o psiquiatra Humberto Mariotti — dentre outros — levantou como causas aquelas
que tem a ver com o conhecimento, ou a falta dele.
Por
falta de conhecimento, o trabalhador médio brasileiro tem baixíssima
produtividade e falta de qualidade em geral, e o ciclo vicioso completa-se com
a pouca ambição e baixos salários. A parte mais frágil nesse processo é o
trabalhador menos qualificado, o primeiro a sofrer os efeitos do desemprego. A
mudança desse quadro, para uma trajetória virtuosa, passa por investimentos
efetivos em educação — com foco nos professores —, mas também pelo
enfrentamento da falta de ambição intelectual do brasileiro. E, neste aspecto,
cabe a nós — elite deste país —, que recebemos — e aproveitamos — um quinhão desproporcional ao que a grande
massa de brasileiros recebe, dar o exemplo concreto e estimular o
desenvolvimento de novos padrões de comportamentos objetivos, incluindo a
leitura, a reflexão e discussão de ideias.
Enquanto
não construirmos na realidade objetiva razões para elevar a autoestima, nosso
comportamento de vira-latas tende a continuar alimentando o complexo de mesmo
nome, pois este é apenas o efeito, não a causa.
E
nossos campeões olímpicos continuarão chorando muito, pois imaginamos que a
vitória tenha a ver com algum merecimento pessoal subjetivo, algo que o mundo nos deve, e não com a
preparação para vencer.
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