Se eu não morresse nunca ! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas. (Cesário Verde 1855-1887)







segunda-feira, 15 de março de 2010

Aquela do pato chinês


Quando as pessoas perguntam se você conhece tal país, é comum que se responda sim quando já se esteve lá. Mas uma coisa é conhecer um pouco de um país e outra é ter estado 2 a 3 dias em 1 ou 2 cidades de um país. Nesse caso a gente só conhece mais do que aqueles que não estiveram nenhum dia, ou nada leram sobre o país.

Tudo isso para dizer que há coisas diferentes na China, como o tipo de restaurantes que são compostos por salas individuais em hoteis, ou edifícios que parece que são hotéis, mas poderiam ser qualquer coisa, se decifrássemos aqueles caracteres chineses. Por sorte não deciframos, nem somos devorados por êles.
Mas, sem poder generalizar em definitivo, estivemos novamente nesses restaurantes. Tino, eu próprio "y algunos chinos", como diria esse meu especial amigo. Não vou me alongar agora a explicar quem é Tino, mas deve ser dito algo para que o curioso leitor mantenha-se interessado. Então vou abrir um parêntese. É claro que muitas vezes o leitor espera um começo, meio, e fim, como se não tivéssemos direito de dar algumas voltas que ao final não levam a lugar, a andar como um bêbado, que não segue em linha reta mas ao final vai a algum lugar. Também não escrevo em linha reta e até faço umas voltas que trazem ao ponto inicial. Enfim, não se deve esperar sempre uma seqüência muito linear e desencadente em um final coerente, pois às vezes o final não é coerente e muitas outras vezes nem final tem. Porisso, já vou dizendo, quem quiser cair fora aqui, pode fazê-lo sem maiores constrangimento (mesmo porque não há ninguém olhando), mas se quiser continuar, poderá ir até onde seu interesse ou sua paciência permitir. Assim que eu dizia que Tino é especial. Especial diz algo, talvez tudo, mas também poderia dizer pouco, ou nada. Então direi de outra forma: se fosse número Tino seria o número 827. Se não esse, algum outro, muito raro. Pois não se poderia descrever alguém dizendo que o "fulano" é ímpar, pois entre ímpares e pares estamos todos. Essa afirmação não teria utilidade nenhuma. Talvez sim, se disséssemos, o fulano é "primo", no sentido de número primo. Se você recorda, primos são aqueles números inteiros que são divisíveis apenas por eles próprios, para que o resultado seja inteiro. É nesse sentido que afirmei que Tino seria talvez o número 827. Não seria um número primo qualquer. E ainda digo que seria esse número em finlandês. É que o finlandês é uma daquelas línguas que, se número fosse, também seria número primo, pois não tem relação com as demais, nem vizinhas, nem outras quaisquer. Talvez porisso Papai Noel tenha escolhido morar na Finlândia. Com o frio que faz durante a maior parte do ano pode trabalhar em paz, sem se preocupar com a língua, tampouco com os números primos. À propósito, encontrei uma das Renas de Papai Noel no Aeroporto de Helsinque. Mandei lembranças ao bom velhinho.
Agora sim, entrando no tema principal que, se ainda me lembro, é o almoço no restaurante chinês, conto um pouco mais.
A mesa, redonda, grande como para 12-14 pessoas, tem um grande tampo de vidro sobre ela, ao centro, giratório, onde os atendentes vão colocando os pratos com as comidas (já está me dando nojo!).
De sopa com pé de galinha ao chá de alguma coisa, de verdura já vista um dia à vegetais muito estranhos, de peixes que parecem ruins à peixes que parecem muito ruins, tem muitas coisas e outras tantas.
Mas em dado momento entra o pato chinês assado. Esse pato é digno ! Não tem nada a ver com a galinha assada brasileira. É claro que pato é pato e galinha é galinha, mas não me refiro à isso. Seria muita idiotice. Me refiro à maneira que entra e que é apresentado na mesa. Enquando a pobre galinha brasileira é destruída ou antes de ir para a mesa ou na própria mesa, existinho para tal até uma tal de tesoura de destrinchar galinha, o pato não !
O dito pato entra em um prato oval, devidamente deitado e estirado, inteiro, embora desnudo. As vezes já vem fatiado, mas de tal forma fatiado, em fatias tão finas e parelhas, que de longe não parece estar fatiado. Isso, creio eu, não fere à dignidade do pato (ao contrário da destrinchada galinha), pois parece ter consciência do que se passa, ou do que se passará na refeição. Dá até a impressão de perceber à retirada de cada fatia, com muito orgulho pelo que proporciona, talvez com vontade de participar a cada brinde. "Campai !" Essa é a senha para todos levantem e digam "campai" e batam copos, brindando à não sei o que. E volta e meia, algum desocupado levanta de subito, as vezes até assustando o visitante distraído e impõe quase aos berros outro "campai !". E assim vai a coisa.
O que estaria pensando o pobre pato ? Sei lá, mas gostaria de fato de saber, isto é, se pato efetivamente pensasse (o que não seria absurdo), mas ainda assim imaginar que aquele pato desnudo e fatiado pudesse pensar algo admito que seria forçar a barra. Mas mesmo assim, gostaria de saber a percepção do pato, pois esse tipo de coisa, esses detalhes é que dão cor à narrativa, assim como os detalhes dão cor à vida, não nossos pincéis. Embora tenhamos a tendência a pensar que temos o controle dos pincéis que dão cor à vida, na maior parte da vida não é o pato nem nós mesmos, mas a própria vida é quem pinta e borda conosco.
Então, aqui deixo um brinde ao pato, à Rena, ao Papai Noel, ao Tino e principalmente à que teve fôlego para chegar ao fim e não querer se estrangular por isso, nem se atirar pela janela. "CAMPAI !!!"
(12/03/2010)

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