Se eu não morresse nunca ! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas. (Cesário Verde 1855-1887)







domingo, 5 de dezembro de 2010

NEM DEVASSA, NEM TÃO LOURA

Para quem se recorda, meu nome não é Johnny. Me chamo Ferdinando John. Ferdinando por escolha de mãe e John por escolha de meu pai. Apesar disso, minha mãe também me chama por Johnny, o que muito me agrada, embora não sendo meu nome. Mas esse assunto da escolha de meu nome, como se deu, por quê se deu, bem como os protagonistas do processo, isso eu já expliquei em outro lugar.
 E agora não gostaria de repetir, pois a estória não é curta e  mesmo que eu não esteja propriamente atrasado, ao adentrar nesse assunto, o que fatalmente me levaria a outro, e sucessivamente a outros, correria o risco de me atrasar mesmo. E eu já deveria estar saindo de casa.

Não que fosse um grande problema caso perdesse alguns minutos divagando um pouco mais, porém meu histórico não recomenda que eu baixe a guarda nesse sentido, pois facilmente fico absorto entre fantasias e realidades, a ponto de não saber distinguir uma da outra, principalmente à noite. Então, como já está anoitecendo, vou apenas me concentrar em pequenos preparativos pessoais como colocar um pouco de perfume e pegar aquelas coisas essenciais como chaves, cartão de credito, documentos e algum dinheiro, eventualmente útil. Propositalmente não mencionei nada sobre desodorante, pois, de fato, tenho evitado usar. Ainda não encontrei algum que acrescente algo ao meu cheiro. É "meu cheiro" mesmo, e não "mau cheiro". Algo de melhor, é claro, pois de pior tenho encontrado muitos. No passado usava aqueles de bastão, que irritavam um pouco a pele e deixavam a camisa completamente amarelada debaixo do sovaco. Porisso eu só usava camisas escuras. Depois vieram os desodorantes de spray. Pouco mudou !
Com o tempo descobri que a quantidade de pelos nas axilas era determinante para o efeito do desodorante. Quanto mais pelos, pior era o caso. Então, passei a cortar um pouco. Não era uma depilação, pois apenas aparava o comprimento dos fios, normalmente com tesoura. Mas era bem complicado. Primeiro, porque eu não era contorcionista, e isso exigia dobrar os braços como se fosse o homem aranha. Para quem não sabe, o contorcionismo é uma arte muito valorizada nos circos e espetáculos em geral, consistindo da demonstração de uma flexibilidade natural excepcional. Tem contorcionista que gira a coluna em 180 graus, os braços em 360 graus, e são capazes até de se esconder numa caixa de sapato. Tirando os sapatos, é claro. Tanto os da caisa quanto os próprios. Então esse era meu primeiro problema para aparar os pelos do sovaco.

Além disso, eu não tinha uma tesoura exclusiva para isso. Então, quando ninguém estava olhando, eu pegava a tesoura da cozinha, e usava rapidamente para aparar os pelos das axilas. Até que funcionava bem, e eu tinha o cuidado de não deixar rastros na tesoura da cozinha.

Depois da fase dos desodorante spray, descobri os roll on.  De início parecia que seria muito melhor, mas depois, a lesma lerda. Então, definitivamente não uso mais desodorante, preferindo reforçar o perfume, com uma ou duas borrifadas mais na zona das axilas. Isso tem dado resultado satisfatório.

Hoje, estou com, além de expectativa, também um bom presságio de que iremos encontrar um acolhedor local para conversar, bebericar e avançar nas discussões dos problemas, suas causas e todas as soluções para fortalecer nossa frágil da humanidade.

Na outra noite fizemos grandes progressos nesse sentido. A noite estava agradavelmente fresca. Mas não ventava, e o leve chuvisco-estilo-londrino, andava por perto mas não nos encontrou, chegando apenas na manhã seguinte. De modo que para o meu gosto e sensibilidade, o clima estava perfeito. Temperatura amena-mas-nem-tanto, ar com cheiro de chuvisco-por-vir, em um agradável local de apreciadores de cervejas e bons petiscos. Já era noite quando lá chegamos, mas não estava tarde, e pudemos escolher uma mesa ao ar livre, protegida por um robusto ombrelone de uns 3x3 m que, em caso de chuva nos permitiria permanecer até o fim do jantar, ou, pelo menos, bater em retirada de forma organizada e sem pressa. À tempo de pagar a conta, mesmo no cartão de crédito, e recolher todos os pertences da mesa, nada esquecendo. Nem alguma bolsa. Apesar de que é mais fácil esquecer a bolsa depois de tomar umas duas cervejas do que por sair de forma apressada.

A casa tem uma lista de cervejas bastante extensa e variada, o que nos levou a enfrentar a escolha da cerveja a ser pedida, incluindo é claro a Devassa - bem loura -, que fez sucesso na pele de Paris Hilton, mas a campanha já terminou. Eu nunca bebi essa cerveja, sei lá por quê. E invariavelmente me surprende encontrar esse nome na lista de bebidas, pois sempre penso se não seria algo de comer.


Quanto à preferência por uma cerveja artesanal, houve total consenso. Mas, a partir daí, havia pilsen, lager, ale, helles, steinbier, variações dessas, e outras tantas, com muitas subcategorias. Pude comprovar, depois, que nosso entendimento sobre cervejas é mínimo. É certo que não erramos ao reconhecer uma malzbier , mesmo dizendo "malsibir". Eventualmente, também reconheceríamos uma bock. Tanto a cerveja como a salsicha !

Mas, quanto às cervejas claras, é uma grandessíssima confusão, como pude confirmar posteriormente, e aproveito para explicar.

Basicamente, as cervejas que mais bebemos são do tipo lager, que são armazenadas por algumas semanas para que se dê o processo de maturação. Há também as cervejas tipo ale, que também passam por um processo de maturação, mas em condições um pouco diferentes. De outro lado está o tradicional chope, sem maturação, que é servido sobre pressão, para formar o famoso colarinho. Quanto ao tal colarinho, tenho visto as mais variadas teorias sobre sua função e a altura ideal, mas francamente, para mim é tudo enrolation, pois o motivo de servir chope com colarinho é apenas econômico, em que você paga pelo chope e recebe espuma. Mas isso é outra estória.

Agora que organizamos um pouco nosso conhecimento cervejeiro, não mais escolheremos uma cerveja pilsen, por preferi-la ao invés das lager, pois também a pilsen é uma cerveja tipo de lager. Assim também as cervejas Pale Lager, Bock e Dopellebock. Tudo pertencente ao grupo das lager.

Mas, se você costuma pedir um chops e dois pastel, isso está liberado. Ao melhor estilo paulista.

Isso me lembra também a questão dos pasteis, pois atualmente existe pastel-de-tudo. Até de coração de galinha e de estrogonofe. Pois o verdadeiro pastel brasileiro é aquele feito com carne, sendo o acompanhamento ideal para a cerveja ou chope. Um é a cara-metade do outro. Assim como pizza e guaraná.

Então, quando peço um pastel, e me perguntam pastel de quê, respondo de forma série e surpresa: “de carne, ora !”.

Até que vim rápido. Também, sábado neste horário o trânsito é tranquilo. Ali tem um lugar, mas acho que não entro. Eu entro, mas o carro talvez não. Até que deu ! Bem debaixo da iluminação. Essa placa de carga e descarga não dá nada. Isso só vale em horário comercial.

Ok, lá está. Bem ajeitado o boteco. Desta vez vou escolher uma cerveja lager tipo pilsen. Prá desespero dos "entendidos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário