Se eu não morresse nunca ! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas. (Cesário Verde 1855-1887)







domingo, 6 de novembro de 2011

O cavalo, o cabrito, o avestruz, a girafa e Eva

Me inquieto lendo as preocupantes notícias sobre animais em extinção. Ou já extintos. Alguns que estariam em vias de desaparecerem - conhecidos e simpáticos - como os dinossauros e as baleias, mas também outros desconhecidos e desinteressantes como a aranha branca, da era glacial, e a pulga unicórnia (pulex unicornis), que teria vivido na origem do mundo quando este ainda só tinha duas dimensões. E hoje já temos uma realidade em quatro dimensões, sendo esta última, a dimensão temporal.

Pois, tal pulga, catalogada como unicórnia, parece ter sido objeto de erro de classificação. Erro grosseiro. Pois há muito mais evidências que fosse pulga de um olho só, daí uma córnea, mal passada para unicórnia, ou seja, um corno, uma guampa.

Mesmo no plano de conhecimento comum, sem compromisso com o rigor científico, é bastante coerente e razoável que em tempos de duas dimensões fosse necessário apenas um olho. Mas, enfim, a pulga ficou unicórnia. Quem se interessa por essa pulga, se já está extinta ? Eu ? Não muito ! O suficiente para citá-la.

Observando as notícias esparsas veiculadas tanto em jornais e noticiários, mas com elevada freqüência em documentários e artigos científicos, tenho constatado que despertam muito mais o nosso interesse, os assuntos sobre a extinção. Mais da fauna do que da flora. Baleia jubarte, lobo-guará, ariranha, ararinha azul, chimpanzé, urso polar, jacaré-de-papo-amarelo, Tiranossauro Rex, panda gigante, humanos. Uma lista sem fim. Extintos, criticamente ameaçados, em perigo, vulneráveis, estúpidos.

Embora a ciência estude, e esteja em vias de comprovar, que possa haver um processo de criação, que se contrapõe à extinção, recompondo e equilibrando a vida das espécies, prevalece entre nós humanos o interesse pelos animais extintos em detrimento dos animais criados. Talvez porque a extinção seja uma certeza e a criação seja ainda uma hipótese carente de comprovação.

O objetivo desta crônica é falar sobre o aparecimento dos pôneis e das girafas, pois há uma linha muito consistente, que explica a criação (sim, criação) destes simpáticos animais. Os pesquisadores tem juntado as peças de seus descobrimentos tanto de campo através da paleontologia, mas também de laboratório, através da genética, o que permite saber a época e como apareceram em nosso planeta a girafa e o pônei.

Assim, se eu me afastar, de quando em quando, de um rumo que aponta para objetivo – pôneis e girafas – estarei apenas trazendo referências diversas que, se não tem ligação direta com esses animais, tem a ver com outros tantos.

Sabe-se que muito antigamente, quando ainda não existiam tais animais – pôneis e girafas, além de outros -, houve um período de tempo em que a alimentação verde disponível era muito rara. Em regiões áridas, demasiadamente rochosas, em que os grandes ventos carregaram a terra e deixaram somente areia e pedras, a sobrevivência dos animais ditos herbívoros ficara quase inviável. Muitas dessas regiões se transformaram em desertos fósseis, desertos esses que se formaram desde 500 milhões de anos. Tais desertos fósseis são também conhecidos como paleodesertos, e sabe-se que guardam em suas entranhas, quase a sete chaves , boa parte da história da terra e seus habitantes.

Descobertas feitas por paleontólogos no final do século passado, revelou muito sobre a origem do pônei (equus tener unus) e da girafa (giraffidae), animais estes que não existiram desde sempre, nem foram criados a partir da costela de Adão, ou da vontade de Eva.

A respeito disso – a vontade de Eva -, a leitura bíblica combinada com vários desenhos e hieróglifos encontrados em desertos fósseis, permite deduzir que quando a primeira mulher foi criada – a quem chamamos de Eva -, ela ainda não tinha em si a “vontade”. Tinha fome, sede, calor. Mas não tinha vontade.

Com a maçã, a serpente, mas principalmente por obra do diabo, a vontade se instalou em Eva – e daí permaneceu em todas as mulheres que vieram depois -, Evas e não Evas, o que tem infernizado a vida dos homens. Mesmo aqueles de boa vontade. Que nem se chamam Adão.

Na mesma origem – maçã, serpente, vontade – o criador teria já permitido à Eva reconhecer no mundo real, o significado da “vontade”, significado este que só existia no mundo das idéias. Aquele mundo que, milhões de anos após, Platão viria desvendar.

Teria sido um dos primeiros aprendizados abstratos de Eva, após reconhecer a maçã, a serpente, a árvore e o homem, nessa exata ordem. Embora óbvio, sabe-se que Adão e Eva não se reconheciam pelos nomes, mas apenas por mulher e homem. Pois nem Adão, nem Eva existiram. Já que não havia essa correspondência no mundo das idéias. Apenas foram nomes dados ao primeiro homem e primeira mulher, em época muito remota. Como se tratavam, não há registro.

Mas assim que a “vontade”, se estabeleceu na mente de Eva, ela teria dito suas primeiras palavras dirigindo-se à Adão: “eu quero a maçã!”. Imediatamente ele tirou a maçã da serpente e deu à Eva. A própria serpente, surpresa, não ofereceu resistência, e teria saído rastejando, com o rabo entre as pernas, ao reconhecer aquele novo ser superior.

Desde então a vontade estabeleceu-se como uma força muito marcante, quase uma essência, do mundo das mulheres.

Atualmente, com as pesquisa envolvendo a leitura do DNA humano, já está comprovado que a mulher tem um gene especial muito desenvolvido, que em inúmeras situações se sobrepõe inclusive ao gene da inteligência. É o gene da vontade. Essa vontade manifesta-se no dia a dia pela declaração “eu quero”, mas também “eu não quero”, declarações ditas de forma impositiva, cujo verbo – transitivo, como usado por Eva –, mas também intransitivo – em querer é poder -, é o preferido e mais referido pelas mulheres desde a tenra idade até o casamento. E, após esse fato, o uso do verbo querer na 1ª pessoa do presente, tanto afirmativo como negativo, é mais freqüente do que a soma de todos outros verbos juntos.

Essa característica feminina foi muito estudada a partir do renascimento, comprovando as antigas teses e suspeitas, o que levou alguns sociólogos a definir a mulher como um ser da espécie volitiva. Guiado pela vontade. Eu quero. Eu não quero. E pronto.

Mas, deixando Eva e sua descendência de lado, e retornando a criação de animais, dizíamos que o aparecimento do pônei e da girafa não se deu da mesma forma do homem bíblico. Nada de maçã. Nem demônio. Nem costela. Nada. Apenas a necessidade de preservação.


equus tener unus
 Tanto os pôneis quanto as girafas são resultados de um processo evolutivo, embora muito particular, pois teria sido uma evolução muitíssimo rápida quando comparado a outros processos evolutivos conhecidos, ou estudados. Essa evolução, aos olhos da paleontologia, por muito tempo pareceu um salto, quase uma mutação.

Isso ocorreu em uma era em que fortes ventos varreram a terra, dificultando a alimentação dos herbívoros. Em decorrência desse fenômeno, apareceram os grandes desertos da África (Saara) e na Ásia (Gobi). Mas pequenos desertos também são resultantes dessa época, como os formados na costa oeste da América do Sul e do Norte. Estes últimos teriam se formado por areia que veio da Ásia.

A mesma secura que impediu o desenvolvimento de flora e fauna, favoreceu a preservação de fósseis vegetais e animais. Por essa razão, importantes informações sobre a origem e vida da terra são procuradas e obtidas nos desertos.

E algumas descobertas relevantes indicam como se deu o aparecimento dos pôneis e girafas nessa época.

Aconteceu que com a arenização de grandes regiões verdes, tornou-se inviável a vida de cavalos e avestruzes. Embora essas duas espécies não tenham sido extintas, pois parte considerável de suas populações migraram para outras regiões, deu-se um fenômeno de cruzamento entre diferentes espécies, pela força da preservação da vida.

Fosseis do Saara revelam o aparecimento de um pequeno cavalo (hoje conhecido como pônei) fruto do cruzamento do cavalo e do cabrito. Com pouca erva no solo, o cavalo (do latim, caballu) não dava conta de atender sua necessidade alimentar. Primeiro porque a disponibilidade de erva era insuficiente, e depois, porque precisava andar muito permanentemente para ingerir uma quantidade mínima que lhe possibilitasse a vida. A natureza, sábia, permitiu a miscigenação entre o cavalo e o cabrito, resultando em um animal de menor porte, que demandava menor quantidade de alimentação, e proporcionalmente mais resistente que os cavalos. Tal animal, conhecemos hoje por pônei. Em latim equus tener unus, ou “pequeno cavalo”.

Girafa em posição de avestruz
Na mesma região foram encontrados fósseis das primeiras girafas, quase um cavalo com pescoço de avestruz (struthio camelus). E também com apetite de avestruz. Essa foi a forma que a natureza encontrou para preservar características importantes do cavalo e do avestruz (este já tinha algum gene do camelo)através da criação de um novo animal. Tudo isso demorou 500.000 anos, o que para a história da terra é um átimo. Embora neste caso não esteja comprovada a miscigenação do cavalo com a girafa, há indícios que assim tenha sido, pois a girafa por muito tempo foi chamada de cavalo com pescoço comprido ( άλογο με το μακρύ λαιμό) na antiga Grécia.

Esses exemplos, do fenômeno chamado criação natural, que se contrapõe à extinção quer natural quer provocada pelo homem, nos dão um alento, indicando que há um processo dinâmico no universo que está além de nossa capacidade de entender.

Talvez um dia saibamos se evoluímos ou não do macaco. Nesse dia provavelmente possamos afastar aquele temor que tinha nosso poeta Mario Quintana, de que o macaco fosse o resultado da evolução natural do homem.

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