Pela primeira vez assisto o Fronteiras do Pensamento, neste ano com tema central “COMO VIVER JUNTOS”.
Meu interesse nesse programa
capitaneado por importantes entidades privadas nacionais, sempre foi bastante
contido. Objetivamente, me satisfaço com o conteúdo divulgado na mídia. Mas,
subjetivamente, tenho uma forte restrição, quase hostil, por perceber esse
evento como especialmente elitista. E ando numa fase de falta de paciência com
as elites brasileiras – às quais me incluo -, por esperar maior engajamento e
responsabilidade na transformação social e econômica do país. Apesar dessa
reserva lá estava eu na abertura, para a palestra de Richard Dawkins, o príncipe
do evolucionismo e arauto do ateísmo radical. Tudo correu muito bem, na
organização e conteúdo da palestra.
Mas, ao final – o final sempre pode surpreender
-, enquanto a plateia se levantava para deixar o auditório, nosso pequeno grupo
de quatro pessoas foi desafiado a descobrir dentre os presentes alguma pessoa
de cor negra. Fizemos uma varredura visual do auditório, sem sucesso.
Há muitas explicações para essa
plateia estar relativamente homogênea e segregada, mas não me parece que
justifiquem esse apartamento, justamente quando o assunto é “como viver juntos”.
Convencido que a falta de diversidade da platéia acaba por ofuscar o próprio tema central do Fronteiras,
me lembrei de um filme clássico para quem se interessa por justiça: “Separados
mas iguais”.
Sem dar-se conta, os
organizadores do evento perdem a oportunidade de convidar representantes das
muitas etnias que formam nosso povo, bem como das classes sociais historicamente
desfavorecidas, e que precisam ser apoiadas. Pelo menos, estaríamos declarando que
percebemos as enormes diferenças socioeconômicas que infectam nosso país, e demonstraríamos,
mesmo que timidamente, que queremos mudar essa situação. A menos que estejamos
apenas interessados em bem viver juntos entre “nós”, mas separados “deles”.
PS: na saída encontramos uma
jovem mulata, mas estava à serviço da organização, com uniforme e tudo, e, com
um simpático sorriso nos desejou boa noite.
Jornal do Comércio, 24/06/2015
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