Se eu não morresse nunca ! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas. (Cesário Verde 1855-1887)







quarta-feira, 24 de junho de 2015

JUNTOS, MAS (BEM) S E P A R A D O S


Pela primeira vez assisto o Fronteiras do Pensamento, neste ano com tema central “COMO VIVER JUNTOS”.

Meu interesse nesse programa capitaneado por importantes entidades privadas nacionais, sempre foi bastante contido. Objetivamente, me satisfaço com o conteúdo divulgado na mídia. Mas, subjetivamente, tenho uma forte restrição, quase hostil, por perceber esse evento como especialmente elitista. E ando numa fase de falta de paciência com as elites brasileiras – às quais me incluo -, por esperar maior engajamento e responsabilidade na transformação social e econômica do país. Apesar dessa reserva lá estava eu na abertura, para a palestra de Richard Dawkins, o príncipe do evolucionismo e arauto do ateísmo radical. Tudo correu muito bem, na organização e conteúdo da palestra.
Mas, ao final – o final sempre pode surpreender -, enquanto a plateia se levantava para deixar o auditório, nosso pequeno grupo de quatro pessoas foi desafiado a descobrir dentre os presentes alguma pessoa de cor negra. Fizemos uma varredura visual do auditório, sem sucesso.

Há muitas explicações para essa plateia estar relativamente homogênea e segregada, mas não me parece que justifiquem esse apartamento, justamente quando o assunto é “como viver juntos”. Convencido que a falta de diversidade da platéia  acaba por ofuscar o próprio tema central do Fronteiras, me lembrei de um filme clássico para quem se interessa por justiça: “Separados mas iguais”.

Sem dar-se conta, os organizadores do evento perdem a oportunidade de convidar representantes das muitas etnias que formam nosso povo, bem como das classes sociais historicamente desfavorecidas, e que precisam ser apoiadas. Pelo menos, estaríamos declarando que percebemos as enormes diferenças socioeconômicas que infectam nosso país, e demonstraríamos, mesmo que timidamente, que queremos mudar essa situação. A menos que estejamos apenas interessados em bem viver juntos entre “nós”, mas separados “deles”.

PS: na saída encontramos uma jovem mulata, mas estava à serviço da organização, com uniforme e tudo, e, com um simpático sorriso nos desejou boa noite.

Jornal do Comércio, 24/06/2015

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