Antes das oito da manhã eu já
estava no Aeroporto, pois o transfer
hotel-aeroporto nos exige chegar muito cedo. O voo da TAP partiu de Lisboa no
horário, 9h40. Era um Airbus A320, relativamente lotado. De cada lado do
corredor havia três assentos, eu no corredor, o do meio vazio, e na janela um
senhor português da minha idade, cujo nome não lembro mais, funcionário da
ONU/UNICEF e logo estabelecemos conversação. Ele desembarcaria em Acra, envolvido
num programa para que Gana deixe de ser “o lixo do mundo”.
Ante meu espanto,
explicou que um bairro de Acra concentra o descarte de 50% do lixo eletrônico
dos países desenvolvidos. A título de doação, ou venda para reciclagem, chegam
ao porto local perto de 600 containers por mês. O lixão é uma fonte de renda
para 200 mil ganenses, contados trabalhadores diretos, indiretos e familiares,
e gera uma “riqueza” importante para esse país com PIB per capta equivalente a
20-30% dos brasileiros. A questão, diz ele, não é reaproveitar o lixo
eletrônico dos ricos, mas sim a falta de condições até para isso. Pois se trata
de um verdadeiro lixão, totalmente insalubre, onde queima-se fios para restar o
cobre, contamina-se o local com metais pesados, e legiões de crianças, tentam
retirar algum valor do que não foi aproveitado pelos adultos.
Embora no Brasil já tenhamos
algumas reciclagem organizadas, gerando trabalho desde a coleta, classificação
e venda para reaproveitamento, com algum traço de dignidade, tenho comigo que
isso nos induz à cegueira, pois o meio ambiente requer antes de tudo a redução
da exploração exaustiva e não sustentável. Precisamos usar menos, descartar
menos, e aí sim, reciclar o que ainda for descartado.
No voo de pouco mais de sete
horas até Acra, serviram aperitivos, depois um almoço e ainda um lanche da
tarde. Vista a cidade de cima, e depois em terra o aeroporto, parece do tamanho
de Porto Alegre, e também a população é em torno de 1,5 milhões de pessoas.
Após a escala de quase uma hora, às três e meia da tarde decolamos para São
Tomé, pouco menos de duas horas de voo. Agradeci o jantar oferecido e tomei só
água.
Às seis da tarde saí do aeroporto
e, em 10-15 minutos, pela costa, chegamos ao hotel, localizado no perímetro
central da cidade de São Tomé, talvez do tamanho de Bagé - RS, mas sem a igreja
matriz de São Sebastião. Já era noite, me pareceu que está anoitecendo no mesmo
horário de Porto Alegre - RS.
Depois de me acomodar, desci até
o pequeno bar da também pequena piscina e pedi um Campari com petiscos. Conversei
com um dos garçons e me sugeriu contratar os serviços de um guia turístico com carro, - custaria
pouco – para percorrer a ilha no dia seguinte. Na recepção me deram o cartão do
Sr. Antônio João Mendonça, “acompanhante turístico”.
As oito da noite, com um mapa na mão, saí para dar
um passeio a pé. Na portaria me indicaram alguns pontos, e tranquilizaram
quanto à segurança. Caminhei em direção ao centro e à praia encontrando pessoas
que voltavam do passeio da tarde e, logo depois, famílias em início de passeio
noturno. Temperatura agradável de uns vinte e poucos graus – há uma brisa do
mar permanente -, num simpático e frequentado bar com mesas na calçada, pedi
bolinhos de bacalhau e um cálice de um excelente vinho rosado. Guardei o nome,
Rapariga da Quinta, português.
Retornei ao hotel às 22h, através
da portaria me comuniquei com o acompanhante turístico, e confirmei o passeio
para amanhã. A previsão é de tempo nublado, um pouco mormacento, sem chuva.
Resolvi passar os olhos no Diário
de Notícias, de Portugal, distribuído durante o voo. Sobre o Brasil, apenas a
manchete de que “Milhares saem à rua no Brasil para gritar ‘Fora PT. Fora Dilma’”.
Também dizia que “o mordomo pode tomar o lugar da patroa”, se referindo à
Temer. Nada mais. O Jornal ST, de São Tomé e Príncipe diz que “A partir de hoje
estamos a viver acima das possibilidades da Terra”. Significa que até 13/08, em
menos de oito meses, os seres humanos consumiram todos os recursos renováveis
que a Terra produz em um ano.
Já bocejando, pensei quem se
importa com isso?, e me deu mais sono. É quase meia noite. Vou dormir. Vamos ver
o que nos reserva o amanhã. Boa noite.
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