Enquanto espero a chamada para o
embarque, sentado comodamente com os pés apoiados sobre minha pequena maleta,
sou só antenas captando imagens e sons, movimentos, aromas, tudo.
Ouço, não muito longe, alguém
responder — “sou português”. Dito no verdadeiro “português” pronunciado como só
os portugueses o fazem dizer.
Conversava com uma mulher na faixa dos 50 anos,
de elegante simplicidade, com cabelos pretos relativamente longos. Talvez
portuguesa? Aquela visão, ao som do “sou português”, me remeteu ao “Trem
noturno para Lisboa”, escrito por um suíço de Berna, Pascal Mercier. Com
perfeição, o autor descreve a pronúncia do “português”, em que o “o” é
substituído pelo “u”, o “e” é abafado e o “s” final é um chiado claro.
Diferentemente de agora, naquele romance foi falado por uma portuguesa, que na
minha imaginação poderia bem ser essa à minha frente. Mas não seria, é claro.
Eu não diria que as portuguesas
são referência de beleza, mas, mesmo sem conhecer nenhuminha delas, as tenho
como muito simpáticas. Como aquela portuguesa que trabalhava para o personagem
de Colin Firth (O discurso do Rei), no filme “Simplesmente Amor”. Ele, se não
me engano, um escritor atrapalhado, e ela, contratada como ajudante, ou
governanta, ajuda a colocar um pouco de ordem nos papéis e também em sua vida.
Ao final, ele a busca na Lisboa antiga, num restaurante lindo e típico, ao som
da melhor guitarra portuguesa, aquelas cujas cordas falam diretamente com
o coração.
É emocionante estar indo
novamente para Lisboa, e já amanhã poder ouvir um fado acompanhado por bacalhau
às natas com um bom vinho. Lembro perfeitamente de todas minhas idas
à Lisboa, mas as sensações e os pensamentos que tive nessas ocasiões já me começam
a fugir, um a um, depois de perder as
clarezas que tiveram um dia.
— “Voo TAP, zero-um-um-oito, embarque
imediato”.
Tenho que ir andando, pois a
bicha para o embarque já se acomprida. Boa Viagem!
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