Se eu não morresse nunca ! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas. (Cesário Verde 1855-1887)







sexta-feira, 14 de agosto de 2015

VOO TAP ZERO-UM-UM-OITO, EMBARQUE IMEDIATO!



Enquanto espero a chamada para o embarque, sentado comodamente com os pés apoiados sobre minha pequena maleta, sou só antenas captando imagens e sons, movimentos, aromas, tudo.

Ouço, não muito longe, alguém responder — “sou português”. Dito no verdadeiro “português” pronunciado como só os portugueses o fazem dizer.
Conversava com uma mulher na faixa dos 50 anos, de elegante simplicidade, com cabelos pretos relativamente longos. Talvez portuguesa? Aquela visão, ao som do “sou português”, me remeteu ao “Trem noturno para Lisboa”, escrito por um suíço de Berna, Pascal Mercier. Com perfeição, o autor descreve a pronúncia do “português”, em que o “o” é substituído pelo “u”, o “e” é abafado e o “s” final é um chiado claro. Diferentemente de agora, naquele romance foi falado por uma portuguesa, que na minha imaginação poderia bem ser essa à minha frente. Mas não seria, é claro.
Eu não diria que as portuguesas são referência de beleza, mas, mesmo sem conhecer nenhuminha delas, as tenho como muito simpáticas. Como aquela portuguesa que trabalhava para o personagem de Colin Firth (O discurso do Rei), no filme “Simplesmente Amor”. Ele, se não me engano, um escritor atrapalhado, e ela, contratada como ajudante, ou governanta, ajuda a colocar um pouco de ordem nos papéis e também em sua vida. Ao final, ele a busca na Lisboa antiga, num restaurante lindo e típico, ao som da melhor guitarra portuguesa, aquelas cujas cordas falam diretamente com o coração.
É emocionante estar indo novamente para Lisboa, e já amanhã poder ouvir um fado acompanhado por bacalhau às natas com um bom vinho. Lembro perfeitamente de todas minhas idas à Lisboa, mas as sensações e os pensamentos que tive nessas ocasiões já me começam a  fugir, um a um, depois de perder as clarezas que tiveram um dia.

— “Voo TAP, zero-um-um-oito, embarque imediato”.

Tenho que ir andando, pois a bicha para o embarque já se acomprida. Boa Viagem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário