Na companhia de Mendonça, - pediu
para assim ser chamado -, que se apresentou as nove e meia, numa cruza de buggy
com camioneta, a ideia era dar um giro na ilha, parando sempre que desejado.
Saímos do hotel quase às 10h e vimos natureza muito bela, parecida com o nosso nordeste. Lembro de alguns
nomes, como Ilhéu das Rolas, Boca do Inferno, Praia Jalé, Praia das Conchas,
Lagoa Azul. Em cada local tomávamos um refresco com frutas típicas, exceto na
praia das Conchas, onde ficamos um pouco mais e tomamos duas cervejas Creola com
peixe frito, e sorvete de sap sap. Parece que é graviola, bem bom.
Eram passado 18h, e a claridade
do dia já se recolhera por completo, quando voltamos ao hotel. Convidei meu novo amigo a tomar uma cerveja,
pois a sede pedia. Fazia 25°C e o ar era úmido, mas uma leve brisa vinha desse
mar imenso que envolve essa pequena ilha.
O tal do Mendonça, a uns 35 anos
filho de pai português e mãe são-tomense, é bom de conversa, e contou coisas
interessantes e pitorescas. Sobre os atrativos que não aparecem em guias
turísticos, discorreu sobre a “Cervejaria do Holandês”, que desde 1900 e poucos
é o principal ponto de happy hour de
São Tomé. Que eu não deixasse de ir amanhã à noite e abusasse da curiosidade,
pois o dono e o gerente gostam dos poucos brasileiros que aí vão. Que também
não deixasse de ir à chocolateria de Cláudio Corallo, provar o melhor chocolate
do mundo, também visitar uma roça de cacau e conhecer o queijo. E, no almoço,
não deixasse de provar o “calulu de peixe” acompanhado de “angu de banana”. E,
se gostasse de arriscar, deveria provar um “pilolo atômico”, no bar Maria João,
mas cuidado! — disse ele.
Por último, contou, com sobra de
conhecimento e experiência, do turismo das europeias, com tradição já de
décadas. A origem teria sido uma inglesa, Anne, casada com um certo representante
da Coroa Britânica que aqui moraram a mais de cem anos, início pois dos 1900. E
essa Anne, embora bem casada, tomou gosto pelos nativos, na época escravos
negros – ou apenas trabalhadores domésticos – importados do continente. Esses
robustos e jovens homens que eram contratados para os afazeres domésticos, e
circulavam pela casa com o “torso nu” (expressão do Mendonça) logo receberam a
proteção e o aproveitamento íntimo dessa inglesa. Disse isso sem um sorriso
maroto, e continuou:
— O marido talvez soubesse, pois
é difícil não saber, não é? E não teria sido um desmancha prazeres da esposa,
pois era duro para ambos estar nesta terra tão afastada da civilização e do
convívio social. Depois que voltaram para a Inglaterra, Anne ainda retornou à
ilha, primeiro com uma amiga, noutro ano com mais de uma amiga. A partir daí a
visitação, primeiro de inglesas, depois de outros países, foi aumentando ano a
ano. Hoje, em épocas de frio na Europa do norte, temos sido um destino
interessante para cada vez mais mulheres que aqui vem para o lazer em nossas
praias e prazer em nossas festas, o que muito nos dá gosto. Não se queixam de
seus homens, ou de sua pouca competência, mas buscam avidamente carnes novas
que se ponham nelas. As que já vieram uma vez voltam sempre, e há as de
primeira viagem, mais tímidas e constrangidas por seus insidiosos desejos, mas
que se mostram tão soltas quanto todas após a primeira bebida. Essas festas só
acontecem à noite, nos bares ou nas praias, e terminam nos quartos. Mas depois
que nos aprazamos um ao outro, retomamos a postura e durante o dia somos todos
distintos trabalhadores e honradas turistas. Essa nossa atividade noturna tem
caráter amadora, pois não há dinheiro envolvido. Afinal ambos se aproveitam e
nenhum fica em dívida. Seria imoral cobrar honorários, pois também nós não
pagamos honorários, e nos desfrutamos tanto quanto. É uma troca simples, um
escambo de prazer por prazer. Nossas mulheres não se importam, pois – afinal –
elas nos têm durante todo o tempo. E para os homens é uma forma de dar vazão
quando dá uma vontade quase incontida de roçar as partes baixas nessas mulheres
que vem de tão longe e com tamanha necessidade. Nos últimos anos tem vindo também
alguns homens a procura desses prazeres, não com as mulheres são-tomenses, mas
conosco mesmo. Mas isso não desperta interesse em nossos homens, e esses turistas se decepcionam.
Disse essa parte final me olhando
firme, como que indagando qual era o meu time, e me afastei até onde o encosto
da cadeira permitiu. Olhei o relógio, quase nove da noite, e o Mendonça aproveitou
para levantar, pois tinha um encontro com uma turista alemã.
Repetiu em detalhes a sugestão de
passeios no dia seguinte, enquanto eu buscava no bolso o dinheiro para o
pagamento de seus serviços.
Paguei o que havíamos combinado
pela jornada turística, um milhão e trezentos mil dobras, equivalente a uns 55
dólares. Considerando que rodamos a ilha e a gasolina custa quase 1,5 dólares,
foi um ótimo preço. Ao sair, pedi que me
deixasse na tal Cervejaria do Holandês, pois amanhã à noite já não estaria
aqui. Lá chegando, nos despedimos, sem nada programar para o dia seguinte.
O local confirmou a fama, com
muitos e barulhentos jovens a conversar sobre esportes, praias, e também sobre
estudar em Portugal. Entendi que não há variedade de cursos superiores em São
Tomé e Príncipe, mas se consegue alguma ajuda governamental.
Depois de duas cervejas pequenas,
de coloração avermelhada, que lembra minha preferida de rótulo vermelho da Eisenbahn, acompanhada por krokets holandeses com uma mostarda de
mel, o hotel me pareceu longe demais. Mas consegui chegar ao quarto e até
acertar a teimosa chave no minúsculo buraquinho.
Embora não seja inverno na Europa
e não tenha visto nenhuma turista inglesa solta pelos corredores, por medida de
segurança, tranquei bem a porta. Deveria deixar aberta? A esta hora de sono,
nem sei mais!
Dou uma olhada no Jornal de São
Tomé, pois faz 24 h que não acompanho o mundo. Não encontro nada sobre o
Brasil. Será que não tem mais Brasil? Ou segue dormindo em berço esplêndido?
Termino por aqui. Vou dormir. Durmam vocês também. Boa
noite.
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